A sustentabilidade da indústria da seda

Moda
A sustentabilidade da indústria da seda

A produção da seda é milenar. Raro, inimitável, o fio delicado gera um dos tecidos mais cobiçados, suntuosos e sensuais já produzidos, e cujo metro quadrado é um dos mais caros do mundo.

Vestimenta de reis e imperadores ao longo da história, símbolo de luxo e poder, a descoberta da seda se deu estima-se, no ano 2700 A.C., quando por acaso, Lei Zu a concubina do imperador XuanYuan, e conhecida pelo apelido de Deusa do Bicho da Seda, estava bebendo seu chá em uma floresta de amoreiras, e alguns casulos de seda selvagens caíram dentro da sua tigela. Ao tentar remover os animais, ela descobriu que secretavam uma longa linha. Essa é uma das muitas versões lendárias da descoberta do tecido que encanta milhares de pessoas ao redor do planeta. O império chinês guardou por muito tempo o segredo como intransponível e naquele país, a seda figurou como moeda de troca durante anos, sendo empregada para pagamento de impostos, salários e até dotes de casamento de princesas.

Modernamente, com o acirramento das discussões acerca da sustentabilidade e ética no universo da moda, e os impactos sociais e ambientais dessa indústria, muitas críticas vêm atingindo a cadeia produtiva da seda, da qual o Brasil é o único produtor do hemisfério ocidental, localizando-se na região Norte do Estado do Paraná o fio de melhor qualidade do mundo. A argumentação mais frequente é a de que o processo de obtenção do fio importa em crueldade com o bombyx mori, nome científico da lagarta que o produz.

De fato, o fio de seda é obtido a partir dos casulos do bicho-da-seda, os quais são submetidos a alguns processos que acabam por abreviar a vida da crisálida, levando muitos ambientalistas a condenarem a prática por interpretarem-na como atentatória à vida desses insetos.

Esta afirmação é parcialmente verdadeira, em primeiro lugar porque dados apontam que um percentual enorme das crisálidas naturalmente não chega sequer a completar a metamorfose, vindo a morrer antes mesmo de ultrapassar a pupa. Em segundo lugar, como a lagarta da seda se alimenta unicamente da folha da árvore da amoreira que não é uma cultura auto-semeável,  cujo plantio depende da intervenção do homem, muito provavelmente sem o cuidado humano a espécie bombyx mori já teria sido extinta, pois não sobreviveria diante de predadores, por exemplo.

Por outro lado, as vantagens dessa cultura superam em muito eventuais desvantagens. Estudos recentes mostram que a cadeia produtiva da seda gera um balanço de carbono positivo, contribuindo para a redução significativa da pegada de carbono (CO2 Carbon footprint).

Desde a produção dos casulos, uma tonelada de roupas em seda gera 25 (vinte e cinco) toneladas de CO2 durante toda sua vida útil. Porém, as amoreiras necessárias para produzir essa quantidade de tecido sequestram mais de 700 (setecentas) toneladas de CO2, um volume 30 (trinta) vezes superior à pegada da carbono gerada durante todo o ciclo de vida útil das peças.

A cultura da amoreira para alimentação do bicho-da-seda é totalmente orgânica, sendo proibido o uso de qualquer tipo de agrotóxico ou pesticida pois, podem matar a lagarta, tão grande a suscetibilidade a fatores externos. Ou seja, trata-se de uma cadeia produtiva limpa.

Ainda, a sericicultura, por suas características, favorece a agricultura familiar, pois pode ser iniciada em pequenas propriedades, tem baixo custo inicial e boa rentabilidade por hectare, segundo dados da EMATER/PR.

Para além da indústria têxtil, as aplicações da seda são inúmeras. Por tratar-se de uma proteína altamente resistente, cientistas vêm pesquisando aplicações na medicina, ciência e nanotecnologia, servindo à produção de fibras óticas, substituição de veias periféricas do corpo humano, peças eletrônicas, etc. Tem sido chamada de Kevlar natural, em referência à fibra sintética super-resistente e durável. Por ser biodegradável e biocompatível, pode ser utilizada para implantes no corpo humano. Até mesmo copos descartáveis têm sido produzidos a partir dessa fibra. Disrupção e ancestralidade caminhando lado a lado, e, como definiu o pesquisador Fiorenzo Omenetto (TED Talks) a seda é o milenar material do futuro.

Em tempos de discussões exacerbadas, suscetibilidades e fake News trafegando à velocidade da luz, a busca por dados e informações fidedignas se mostra cada vez mais indispensável.

Ana Fábia R. de O. Ferraz Martins- Advogada, Especialista em Direito e Negócios Internacionais.
https://www.diarioinduscom.com.br/a-sustentabilidade-da-industria-da-seda/

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