Potencial da indústria brasileira para se tornar referência mundial do Slow Fashion

Moda
Potencial da indústria brasileira para se tornar referência mundial do Slow Fashion

Em contraponto à irracionalidade consumista do fast fashion que degradou o mercado mundial de moda, surgiu na Inglaterra há aproximadamente 10 anos, pelas mãos da Consultora e Professora de Moda Sustentável Kate Fletcher, o movimento Slow Fashion, inspirado nos conceitos de slow food iniciado na Itália em 1986. Essa tendência surge da necessidade de mudança no comportamento das empresas e também dos consumidores na direção de um consumo mais responsável, consciente e sustentável.
Moda ética”, “moda verde”, “ecomoda”, “moda consciente”, “ecofashion” são alguns dos termos utilizados para designar criações, designers e marcas que incluem em seu branding as boas práticas da sustentabilidade. Apresentar-se ao público consumidor como marca Slow fashion é, em síntese, isso: integrar preocupações socioambientais em seus ciclos de produção, valorizar a mão-de-obra local, a riqueza e diversidade cultural, investir em tecnologia no tratamento dos resíduos, aproveitar melhor os recursos naturais, criando um produto final de alto valor agregado.
Com a explosão do consumo mundial há mais menos duas décadas, oferta de mão-de-obra baratíssima e não sujeita a qualquer fiscalização pelas autoridades locais, nenhuma preocupação com os recursos naturais em países principamente da Ásia, onde se situa 73% da produção mundial de vestuário, a indústria têxtil brasileira sofreu forte impacto pelo surgimento dessa indústria sem lei, que pratica verdadeiro dumping social e ambiental.
O Brasil, quinto produtor têxtil do mundo, necessitando manter competitividade do setor não ficou imune à ocorrência de situações de precarização da produção, pela ausência de fiscalização de cumprimento das regras trabalhistas e ambientais, duas áreas onde ocorrem as maiores violações na cadeia produtiva da moda. No ano de 2018, o Aplicativo Moda Livre, que monitora empresas brasileiras acusadas de empregar mão-de-obra irregular, listou trinta e oito marcas envolvidas com trabalho escravo no país. E o ambiente de afrouxamento da fiscalização ambiental tampouco garante que a cadeia produtiva adote boas práticas como tratamento e reutilização da água, gestão de resíduos têxteis, reciclagem de material plástico, utilização de energia limpa e renovável, com vistas a neutralizar os impactos ambientais agressivos dessa cadeia produtiva.
Porém, não obstante os desafios de tentar atender às exigências da legislação, contar com pouco ou nenhum apoio governamental, e ainda ter de manter a competitividade, a adoção de práticas sustentáveis em seus meios de produção pode se tornar um grande ativo e fonte de diferenciação da indústria da moda nacional, agregando valor ao produto “Made in Brazil” e transformando o país em um grande polo da moda Slow.
O Brasil é único país do mundo que executa a cadeia produtiva têxtil completa dentro do seu território, desde a plantação de algodão, a produção dos fios e fibras, confecção de peças, varejos e desfiles de moda. O SP Fashion Week e o Fashion Rio colocam o Brasil em quinto lugar na lista dos Eventos de Moda mundiais. Seus organizadores já premiam iniciativas de novos designers que incorporam a sustentabilidade a seus ciclos de criação e produção. A conscientização começa a acontecer, ainda que lentamente.
Indústrias de moda praia e fitness vêm investindo pesado em tecnologia e inovação na criação de fibras de tecido biodegradáveis, evitando que seu descarte na natureza gere resíduo que nunca se decompõe. O fio de seda brasileiro produzido no interior do Paraná é considerado o de melhor qualidade do mundo, utilizado por marcas da Haute Couture como Hermès e Chanel. O Brasil ostenta o título de maior produtor de fio de seda do hemisfério Ocidental. A sericicultura, em que pesem as controvérsias é um dos cultivos com índices altíssimos de sequestro de carbono.
Iniciativas de produção de algodão orgânico no Nordeste do Brasil vêm crescendo, pois, o cultivo convencional é nocivo ao meio ambiente dada a quantidade de água consumida, agrotóxicos e sementes geneticamente modificadas tornam estéril e contaminam de maneira irreversível o solo plantado.
O Brasil, com sua extensão continental, sua vocação para a produção de excelente matéria prima, possibilidade de expansão da agricultura orgânica, criatividade dos profissionais da moda, seu multiculturalismo, a riqueza de seu artesanato local e produção handmade, pode se tornar referência mundial, despontando como país que apropria-se da sustentabilidade como agenda permanente, não como mera campanha episódica de marketing, dando passos importantes e necessários para a consolidação desse novo paradigma que mudará indelevelmente a forma como consumimos. Let´s take it Slow!

Ana Fábia Ribas de Oliveira F. Martins, advogada especializada em Direito da Moda. Membro da Comissão de Assuntos Culturais da OAB/PR

Fonte: https://www.diarioinduscom.com/potencial-da-industria-brasileira-para-se-tornar-referencia-mundial-do-slow-fashion/

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