História do couro: o tecido mais antigo do mundo

Cultura
História do couro: o tecido mais antigo do mundo

Uma das matérias-primas mais importantes do mundo, o couro também foi crucial para o desenvolvimento da humanidade.

Se hoje muitos enxergam uma peça produzida nesse material como luxo, nos primórdios, ele era uma necessidade. De abrigo a vestimenta, a história do couro influenciou a trajetória do homem.

Mais do que um material, o couro é uma parte importante da jornada humana. Neste artigo, você vai saber mais sobre esse assunto. Confira!

O couro na Pré-história

A história do couro começa lá na Pré-história, quando o homem começou a usar pele animal como vestimenta e abrigo. Os animais eram caçados para, primeiramente, servirem como alimentação. Depois, a sua pele era aproveitada para criar roupas, sapatos e tendas.

Além disso, o couro foi responsável por amparar a humanidade quando ela ainda era nômade, ou seja, não tinha um abrigo fixo. Ele protegia das temperaturas extremas e dos fenômenos climáticos, como chuva, vento e neve. Então, se não fosse por essa pele animal, provavelmente a espécie humana não teria sobrevivido.

Desde essa época, há registros sobre o curtimento. O processo mais comum era o de desidratação, em que se usava sal para retirar a água e manter as propriedades da pele. Se o couro não passa pelo curtume, ele endurece quando molhado e apodrece depois de seco.

Acredita-se que a história do couro tenha começado há 400 mil anos.

História do couro na Antiguidade

A escrita é uma das criações mais importantes da história da humanidade. Ela é considerada o marco entre a Pré-história e a Antiguidade e permitiu que o homem registrasse grande parte de sua trajetória. Curiosamente, o couro contribuiu para isso.

Os pergaminhos, onde eram registradas as informações antes do desenvolvimento do papel, eram feitos de pele, principalmente de cabra, carneiro, cordeiro e ovelha.

Como vantagens, o pergaminho era mais resistente, permitia uma escrita melhor, era mais branco e poderia ser fabricado em locais de clima frio — ao contrário do que acontecia com o papiro, desenvolvido na mesma época, que era feito com a planta de mesmo nome.

Pergaminhos armazenaram manuscritos bíblicos essenciais para a religião cristã. O Códice de Leningrado, datado de 1008 d.C., é a base para as modernas traduções da Bíblia.

Já no Antigo Egito, o couro era utilizado entre 3 mil e 5 mil anos a.C. para criar todo tipo de artefato possível: roupas, sandálias, luvas, baldes, garrafas, instrumentos musicais, móveis, equipamentos de guerra e mantas para embalar os mortos.

Os egípcios também foram responsáveis pela evolução da história do couro: eles eram vaidosos e gostavam de um visual colorido. Então, criaram processos de corte, costura, tingimento e estamparia do material durante a época dos faraós.

Na Grécia Antiga, houve a criação do curtimento vegetal. Os gregos usavam folhas e cascas de árvores para manter a flexibilidade, durabilidade e resistência do couro. O que começou como algo local se transformou em um negócio lucrativo que atravessou gerações e milênios.

Até hoje, o curtume com extratos tânicos derivados de espécies florestais é utilizado.

Idade Média

A Idade Média permitiu diversos avanços na história do couro. Artesãos começaram a criar técnicas mais refinadas para o tratamento do material, que era utilizado para muitos itens.

Antes, grande parte dos designs de calçados consistia em uma única peça de couro amarrada ao pé com cordões, também de couro. Aqui, eles começam a ser mais fechados e com várias peças do material juntando a sola à parte superior.

Bolsas e alças de vários tamanhos eram bastante comuns, mas nessa época também começamos a ver o couro sendo usado nas costas e nos assentos das cadeiras. Normalmente com um material macio por trás, ele proporcionava uma superfície durável e confortável para descansar.

Nessa época também se torna muito popular um tipo de sapato chamado crakow — aquele bem pontudo, que costumamos ver nos desenhos da Idade Média. Ele era praticamente um item de luxo, que indicava que o indivíduo tinha grande poder aquisitivo e não necessitava trabalhar muito. Afinal, alguns tinham a ponta tão comprida que comprometiam o caminhar.

Os crakows que resistem até hoje são quase que unicamente de couro, já que os sapatos de outros tecidos se deterioraram com o tempo.

Idade Moderna e Contemporânea

Durante o século XVIII, a industrialização criou uma demanda por novos tipos de couro — para correias de máquinas, por exemplo.

O desejo por calçados mais macios e leves, que tivessem uma aparência moderna e refletissem um padrão de vida elevado, também criou uma demanda por couro macio, flexível e colorido.

O couro curtido ao vegetal era muito duro e espesso para isso. Portanto, o uso de sal de cromo foi adotado e se tornou padrão para calçados e moda no geral, além de estofados.

A tecnologia permitiu inovação na indústria do couro, à medida que o desenvolvimento de produtos químicos e métodos de processamento sofisticados expandiram muito a estética, o toque e as possíveis aplicações do material.

Séculos XX e XXI

Embora seja muito antiga, a história do couro só se voltou à moda recentemente. Antes, as peças tinham caráter quase sempre utilitário, não de itens-desejo.

Os pilotos da Primeira e da Segunda Guerra usavam jaquetas de couro forradas. Vistos como heróis, eles acabaram popularizando a peça, que começou a ser usada por motoristas e motociclistas. Por isso que até hoje ela tem essa associação com aventuras, rebeldia e velocidade, sendo um dos grandes símbolos da contemporaneidade.

Atualmente, o couro faz história por conta da sua importância para a economia brasileira.

Ele é um material que dificilmente consegue ser substituído porque carrega características que tecidos sintéticos não conseguem reproduzir. Um exemplo é a sua porosidade, que permite que a pele “respire” e torna o uso muito mais confortável. Além disso, é elástico, flexível e resistente à tração e ao atrito.

Essa importância do couro é muito percebida no Rio Grande do Sul, de onde saem muitos produtos que abastecem mercados dentro e fora do Brasil, liderando, inclusive, as exportações no segmento.

Os curtumes têm grande importância para os gaúchos, pois escreveram grande parte da história da economia e até hoje conseguem ser o alicerce de regiões inteiras do estado.

No mundo não é diferente. São mais de 2 bilhões de metros quadrados de couro produzidos anualmente, que valem US$ 77 bilhões, de acordo com estimativas.

Viu como a história do couro tem tudo a ver com a trajetória da humanidade? Então, quando estiver com uma jaqueta, saia ou outra peça do material, lembre-se que é um item que carrega parte daquilo que permitiu que chegássemos até aqui.

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